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Crítica | Bailarina

Tiro, porrada, bomba, um pouco de ballet e escassas novidades ilustram primeiro spin off cinematográfico do universo John Wick


Imagem: Lionsgate/Reprodução
Imagem: Lionsgate/Reprodução

O universo expandido da franquia John Wick toma forma com Bailarina (From the World of John Wick: Ballerina), novo longa-metragem de ação neo-noir que segue uma habilidosa e implacável assassina, interpretada por Ana de Armas, que foi treinada nas tradições da organização Ruska Roma e busca por vingança contra aqueles que mataram seu pai e roubaram sua infância. Passado entre os eventos de John Wick: Capítulo 3 – Parabellum e John Wick: Capítulo 4, este novo filme explora o mundo das assassinas de aluguel que agem secretamente.


 A forma como os longas da franquia John Wick, que teve sua origem com o filme homônimo (traduzido no Brasil como “De Volta ao Jogo” de 2014, conseguem subverter uma simples premissa de vingança em um excêntrico e altamente estiloso thriller neo-noir repleto de ação e originalidade transforma sua construção imagética em sua maior arma para arrecadar bilheterias. De fato, o formalismo da série John Wick é uma grande façanha cinematográfica recente, capaz de tornar o gênero de ação baseado em vinganças novamente atrativo para público e crítica, graças também à curiosa crença de divindade e assombração criada em cima do personagem interpretado por Keanu Reeves. Endeusado pelos fãs e temido pelos personagens do filme tal como Baba Yaga – apelido dado pelos seus inimigos -, Wick é uma figura emblemática que, assim como a saga que leva seu nome, deu origem a um universo já explorado na TV, com a minissérie The Continental: From the World of John Wick (2023), e agora nos cinemas, com Bailarina (From the World of John Wick: Ballerina), filme este que procura explorar melhor a organização da Ruska Roma, além de trazer uma nova protagonista, Eve Macarro, cheia de espírito, porém desprovida de uma história interessante.


Imagem: Lionsgate/Reprodução
Imagem: Lionsgate/Reprodução

 Enquanto John Wick está para Baba Yaga, bruxa do folclore eslavo que também é associada ao Bicho-Papão devido à sua perversidade e pavor que é capaz de causar, Eve Macarro, de Ana de Armas, é constantemente associada à Kikimora, outra personagem do mesmo folclore que, por outro lado, é uma criatura que pode assumir formas frágeis e pequena, que invade seu lar e decide se ela será uma entidade boa ou não, dependendo de como você cuida de sua casa. De fato, a protagonista Eve se torna uma interessante metáfora à assombração russa, ainda mais quando sua jornada de vingança a leva ao lar do Chanceler, antagonista interpretado por Gabriel Byrne, para concluir sua missão auto imposta. A personalidade de Eve conversa mais com a trama do que sua própria história, já que ela é um espelho do comportamento impulsivo e implacável de uma assassina bem treinada que tem nada a perder e que, a cada investida, aprimora seus conhecimentos. É curioso como o roteiro e a direção ousaram explorar uma breve inexperiência da protagonista em seu primeiro combate, mudando suas técnicas de luta a cada encontro com antagonistas.


 O roteiro de Shay Hatten, baseado no material original de Derek Kolstad, assim como a direção afiada e sedenta de adrenalina de Len Wiseman, parecem, em determinados momentos, desacreditar no potencial de sua protagonista, a ponto de resumir sua trajetória em uma história de vingança, mesclada a um resgate de uma criança com o intuito de que nada lhe aconteça semelhante à tragédia que lhe aconteceu na infância. A inclusão de John Wick à trama, que não faz a menor diferença, parece mais acontecer por puro desejo egoísta dos fãs que desejam, a todo instante, se deleitar com referências e associações entre os filmes da franquia, além de ser uma desesperada tentativa de atrair esse público que tem sérios problemas com protagonismo feminino em filmes de ação. Claro que é sempre um prazer ver o icônico personagem de Keanu Reeves em ação, mas não era esse o momento, apesar de, felizmente, seu encontro com Eve não resultar em uma simples pancadaria sem sentido que terminaria com frases de efeito questionáveis, já que os diálogos clichês até soam divertidos e convincentes, uma vez que o filme passa a reconhecer sua posição.


Outro grande desperdício de Bailarina está em não aproveitar sem medo as belezas de uma estética, entregue desde o início da produção – uma vez que Eve já possuía certa afinidade com a dança -, que mesclava ballet e violência gráfica, artes da guerra e artes cênicas, tal como a própria Ruska Roma, que está mais para uma organização antagonista do que aliada à protagonista. Anjelica Huston brilha novamente em sua performance enigmática e amedrontadora como a Diretora, mas era esperado ver mais de sua personagem, assim como de toda a ideia presente no clã, o que traria ao longa-metragem recursos formais incontavelmente melhores do que luzes néon e penumbras, não que essas escolhas não venham a funcionar, mas já não se destacam.


 Em matéria de cenas de ação, o filme não faz feio, até pelo fato deste ser praticamente movido pela adrenalina desenfreada, o que pode se tornar um pouco sufocante. Efeitos sonoros e fotografia se destacam nessas sequências, sendo a melhor delas, e uma das mais interessantes de toda a franquia, a absurda batalha com lança-chamas, momento este que é o mais criativo e visualmente bem construído de todo o filme.


Imagem: Lionsgate/Reprodução
Imagem: Lionsgate/Reprodução

 Com o elenco ainda composto por Norman Reedus, Sharon Duncan-Brewster, Ian McShane, Catalina Sandino Moreno e o saudoso Lance Reddick (falecido em 2023), Bailarina conta com um desafio de manter seus muito personagens interessantes a todo instante, o que consegue realizar em partes, já que alguns coadjuvantes, que mereciam mais destaque, são escanteados e retornam somente após a poeira baixar, como foi o caso do personagem de Reedus, que possuía grande destaque nas ações promocionais do filme, mas é mal utilizado ao longo da trama.


Sendo um bom início para uma expansão cinematográfica do universo John Wick, Bailarina funciona na ação e em nos deixar curiosos para saber mais sobre essa nova história e sua protagonista, cheia de personalidade, porém ainda refém de uma história que não confia em seu grande potencial.


Nota: ⭐⭐⭐

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