Um Malassombro "Cabeludo" na Usina Tiúma
- Lucas Rigaud
- 1 de mai.
- 4 min de leitura
Antes de se popularizar no Recife com Raimundo Carrero e Jota Ferreira, a Perna Cabeluda assombrou a cidade de São Lourenço da Mata (PE)
A lenda urbana da Perna Cabeluda é, sem sombra de dúvidas, uma das mais inusitadas e criativas do folclore brasileiro. Supostamente originada em Usina Tiúma, bairro de São Lourenço da Mata (PE), e popularizada no Recife graças à crônica escrita por Raimundo Carrero e às notícias de rádio de Jota Ferreira – que também deu origem a uma famosa radionovela escrita pelo próprio -, esse mal assombro se difere de outras histórias aterrorizantes por contar com uma identidade única e uma estética deveras diferenciada. Afinal, quem iria imaginar que um membro decepado e que não se importa com depilação pudesse se tornar um dos maiores terrores da população pernambucana na década de 1970 e, ainda por cima, se tornar um verdadeiro ícone da cultura nacional, chegando a se tornar um famoso personagem do Carnaval?
Para comemorar os 50 anos do primeiro aparecimento desta lenda nos jornais e a disseminação do pânico de que uma perna ambulante estava dando rasteira nas pessoas, O Recife Assombrado deu início a uma série especial de vídeos sobre a Perna Cabeluda nas principais redes sociais do projeto e, agora, está reunindo as informações detalhadas do surgimento deste famoso mal assombro para quem tem curiosidade em saber, com mais detalhes, o que danado aconteceu em São Lourenço da Mata, naquele final do ano de 1975:
“PERNA FANTASMA SURGE EM MORADIA DE TIÚMA”
No final do mês de novembro de 1975, uma modesta residência localizada na Usina Tiúma, subúrbio de São Lourenço da Mata – município da Região Metropolitana do Recife – foi palco de uma suposta manifestação sobrenatural, uma vez que um jovem que residia no local, chamado Wanderley Borges, avistou, estampada nas paredes, a sombra de uma figura que se assemelhava com uma perna humana se movendo de maneira assustadora.
Na casa de número 13, localizada na Rua do Amendoim (também descrita como Rua Amorim nas matérias de jornal), residia também o senhor José Borges, pai de Wanderley, que inicialmente não acreditou na narrativa do filho. O rapaz, por outro lado, decidiu sair de casa para morar com parentes no centro da cidade, pois estava horrorizado com aquela visagem de uma perna fantasma que se movia nas paredes. Oito dias se passaram e foi a vez de Seu José avistar a medonha figura.
Noticiado no dia 10 de dezembro de 1975 pelo Diario de Pernambuco, sob a manchete “Perna Fantasma surge em moradia de Tiúma”, o caso ainda foi relatado pela reportagem como se houvesse o avistamento de mais de uma perna fantasmagórica nas paredes da residência de Ser José Borges. Ainda foi relatado que vários vizinhos também avistaram a tal assombração e que um padre chegou a ser chamado para benzer a casa, tendo o mesmo não realizado o exorcismo por “não acreditar naquelas coisas”. Um pastor protestante também foi convocado para afastar os supostos espíritos da residência, mas ele saiu correndo minutos após ter dado início às suas orações.

Após mais uma investigação na residência, desta vez feita por dois médiuns, onde nada foi constatado, começaram a surgir boatos entre os vizinhos de que aquela casa de número 13, na Rua Amendoim, há alguns anos, abrigada uma “voz desconhecida”. Muitos moradores da redondeza alegaram que a aparição da perna pode ter ligação com um antigo mal assombro que atormentava antigos moradores da localidade.
O CASO FICA MAIS SÉRIO
No dia 11 de dezembro de 1975, o Diario de Pernambuco noticiou que os moradores da Usina Tiúma já estavam decididos a chamar a polícia para tratar, de uma vez por toda, de toda aquela suposta história de assombração que tirava o sono da vizinhança.
Os moradores da Rua do Amendoim também teriam entrado em contato com o Padre Ludugero, da Paróquia de Santo Antônio em São Lourenço da Mata, para que pudesse abençoar a localidade, mas teria recusado o apelo, o que causou revolta entre os fiéis que esperavam uma explicação religiosa para os fenômenos supostamente paranormais.

Ainda de acordo com a reportagem do Diario de Pernambuco, as pessoas que teriam avistado o suposto fantasma o descreviam como uma perna humana, de mais ou menos 1 metro, que andava por toda a casa e ainda se transformava em animais. Alguns também acreditavam que o ser, agora descrito como metamorfo, era obra de atividades provenientes de bruxaria.
PERNA FANTASMA E CABELUDA
A primeira vez que o termo “Perna Cabeluda” apareceu na mídia pernambucana foi na famigerada reportagem publicada pelo Diario de Pernambuco no dia 11 de dezembro de 1975. Ao periódico, a doméstica Adélia Maria do Nascimento declarou ter visto a criatura que atormentava a Rua do Amendoim, na Usina Tiúma, descrevendo-a como uma “Perna Cabeluda”:
“Primeiro um pé e depois uma Perna Cabeluda”, alegou Adélia Maria, declarando também ao jornal que um vizinho, ao tentar pegar a suposta Perna, levou um surpreendente “tapa no rosto”.“Quando alguém se aproxima do fantasma, dá um frio danado...”, completou a doméstica.
Até mesmo o proprietário da residência onde a suposta assombração fez suas primeiras aparições passou a chamar tal criatura de “Perna Fantasma e Cabeluda”, alegando também que a assombração havia parado de atormentar já fazia um tempo, graças a uma intervenção espírita na localidade.

Contaremos mais sobre o episódio da “Perna Fantasma e Cabeluda” na Usina Tiúma no próximo texto especial.
Contado por: Lucas Rigaud
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