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Crítica | A Mulher no Jardim

Atualizado: 13 de mai.

Mistura entre terror e suspense psicológico de grande potencial tem interessantes alegorias sobre a dor e a saúde mental, mas se sobrecarrega de informações e ideias que afetam drasticamente sentido e resultado de sua história

 

 Em A Mulher do Jardim (The Woman at the Yard), drama de terror dirigido por Jaume Collet-Serra (A Órfã) que aborda temas delicados como luto e depressão, acompanhamos Ramona, uma mulher, recém viúva, que ainda sofre com os danos provocados pelo acidente que matou seu marido física e psicologicamente. A situação se agrava quando uma estranha mulher espectral vestida de preto aparece em seu jardim, dizendo avisos enigmáticos, pondo a protagonista e seus filhos em completo pânico.


Aclamado por sua minuciosa condução em filmes de ação e suspense de situação e por ter feito história no cinema de terror, Jaume Collet-Serra carrega na bagagem produções estreladas por Liam Neeson como Desconhecido (2011), Sem Escalas (2014) e O Passageiro (2018), além dos já considerados clássicos A Casa de Cera (2005) e A Órfã (2009), longas que simbolizam o contraste entre dois gêneros e estilos movidos por uma direção atenta a dinâmicas entre personagens e narrativas, além de contarem com formas assertivas para desenvolver histórias simples e repletas de previsibilidade de uma maneira original, cheia de personalidade e apelo pela imagem. Em 2016, Águas Rasas mostrou como a reunião do suspense situacional com o terror poderiam agregar à sétima arte uma produção recheada de experiências sensoriais, sendo, infelizmente, ofuscada por uma escrita medíocre.


 Retomando suas origens no terror, Collet-Serra assume o roteiro do estreante Sam Stefanak em A Mulher no Jardim, que dispõe de uma premissa convidativa, mesmo exalando um ar de clichê quando o filme começa ser vendido como um terror de situação com toques de sobrevivência e isolamento. O realizador, consciente do desafio de dar vida a um terror duirno que pudesse ser amedontrador, faz um bom uso de enquadramentos que exaltam a misteriosa figura que dá nome a produção. No primeiro ato, Stefanak expõe todos os artifícios funcionais da escrita, combinando o horror e suspense com o drama da mãe em luto e esgotada física e psicologicamente. A degradação da sanidade da personagem Ramona é ponto fundamental da obra, já que essa desencadeia consequências que movimentam a trama, assim como também causam o seu declínio.


Repleto de boas ideias, porém oscilando entre o ousado e o presunçoso nas suas alegorias, que são reveladas – ou pior, expostas sem o mínimo de sutileza - no desenrolar da trama, A Mulher no Jardim, da Blumhouse, no entanto, se vê sobrecarregado de informações e escolhas que mais parece terem surgido após um bloqueio criativo, ou, simplesmente, para preencher o espaço restante do filme, já que a ideia principal se encaixaria em um curta metragem.


 Do final do segundo ato para o terceiro, a até então sólida e convincente direção de Jaume Collet-Serra se vê fragmentada para poder atender e acompanhar o ritmo confuso do roteiro. O diretor, por sua vez, não vê uma solução mais razoável que mergulhar repentinamente em um terror sobrenatural defeituoso que, a todo instante, precisa se explicar como texto e imagem e, ainda assim, pecar na coesão. Não que a abordagem fantasiosa seja aqui um problema, já que ela desencadeia os eventos obscuros, que fazem alusão a temáticas realmente importantes – mas, delicadas demais para serem aqui tratadas com tanta superficialidade - que levam ao desfecho do longa, mas pareceu que, em A Mulher do Jardim, a inclusão da fantasia/terror sobrenatural estava mais para um escape de ausência de ideias e uma ilustração escancarada da depressão e desejo de morte enfrentados pela protagonista, tornando o filme massivo, cansativo e acidentalmente genérico.


Imagem: Universal Pictures/Reprodução
Imagem: Universal Pictures/Reprodução

 Toda verborragia e uso massivo da imagem exige ainda mais do elenco, que já demonstrava eficiência e louvável química desde o início do longa. Com esse desafio, Danielle Deadwyler, que dá vida a Ramona, e os intérpretes dos dois filhos da protagonista, Peyton Jackson (Taylor) e Stella Kahiha (Annie), se doam ainda mais para o seus personagens, sendo uma escolha verdadeiramente positiva para o elenco. Okwui Okpokwasili nos convence imensamente como a sinistra antagonista da história, exercendo um trabalho vocal com excelência, cujo a calmaria transparece medo e aflição.


 Havia um grande potencial em A Mulher no Jardim como terror de situação e suspense psicológico, mesmo sob uma estética claustrofóbica convencional que poderia dar certo investindo no básico. No entanto, ao almejar ser mais, isto é, ostentar exageros para buscar um diferencial cujo o único objetivo mais parece desejar ser fora do padrão, o filme se perde em um terror sobrenatural confuso que necessita expor suas situações a todo instante.


Nota: ⭐⭐



Por: Lucas Rigaud

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