Crítica | Premonição 6: Laços de Sangue
- Lucas Rigaud
- 13 de mai.
- 6 min de leitura
Atualizado: 14 de mai.
Novo capítulo de icônica franquia de horror investe no aperfeiçoamento da originalidade que tanto divertiu o público nos anos 2000, entregando uma trama que consegue trazer ainda mais criatividade para seus próprios conceitos

Em Premonição 6: Laços de Sangue (Final Destination: Bloodlines), acompanhamos Stefani (Kaytlin Santa Juana), uma jovem universitária que está sendo atormentada por um pesadelo recorrente, que logo descobre segredos em sua família que podem revelar um segredo obscuro guardado por sua avó reclusa, há mais de 50 anos. A jovem, então, precisa fazer de tudo para quebrar o ciclo de morte que ronda seus familiares.
Ao recusarem o roteiro do aspirante a cineasta Jeffrey Reddick, intitulado “Flight 186”, para a icônica série Arquivo X, os produtores do programa que mostrava os detetives Fox Mulder e Dana Scully investigando casos sobrenaturais não faziam ideia da mina de ouro que tinham em mãos. Inspirado por um artigo de jornal que narrava a história de uma mulher que teve a visão de um acidente momentos antes de embarcar em um avião, Reddick, que também utilizou A Hora do Pesadelo (Wes Craven, 1984) como fonte de inspiração, desenvolveu a história do filme que traria aflições e divertimento para uma geração inteira. Premonição (Final Destination), lançado em 2000, foi um dos pontapés para a renovação das grandes franquias de terror/horror na penúltima década, trazendo consigo o conceito criativo e intrigante do perigo invisível, porém onipresente. E quem poderia representar esse mal melhor do que a própria morte? Premonição 6: Laços de Sangue chega aos cinemas após uma pausa de 14 anos na franquia, mas não como um mero legado da série de filmes criada por Reddick, e sim como um verdadeiro incremento para o tempero que tanto saciou os fãs de terror da década retrasada.
Na série de filmes que se estendeu até 2011, antes da estreia da sua tão aguardada 6ª parte no próximo dia 15 de maio, a espetacularização da morte é consumida pelo grande público com uma certa ironia, ainda mais nos dois primeiros filmes e em Premonição 5, que contam com a presença do enigmático personagem William Bludworth, interpretado pelo saudoso Tony Todd, um médico legista que parece saber mais do que todos sobre o derradeiro destino dos seres vivos, apresentando falas que tanto ajudam os sobreviventes dos filmes como também despertam sinais de alerta para quem está assistindo. Enquanto nos divertimos com mortes mirabolantes e saciamos nossa curiosidade mórbida a respeito do fim, ao mesmo tempo nos damos conta de que a nossa existência no mundo não é eterna. Premonição 6: Laços de Sangue retoma, não só o conceito que fez dessa franquia uma das mais emblemáticas do horror nos anos 2000, mas também esse sarcasmo ao abordar o comportamento humano em relação às suas tentativas de subverter a morte.
No entanto, dessa vez temos uma profundidade ainda mais impactante por conta da participação de Tony Todd, já muito debilitado por uma longa doença que tirou sua vida em novembro de 2024. Neste novo filme, além de sabermos mais sobre o passado de William Bludworth, temos um dos diálogos mais sinceros e emocionantes de toda a franquia Premonição, onde Todd mais parece transmitir uma mensagem de conforto do que encarar seu misterioso personagem pela última vez. O momento não só caiu como uma luva na trama, como também foi um grande exercício narrativo para os roteiristas Guy Busick, Lori Evans Taylor e Jon Watts e os diretores Zach Lipovsky e Adam B. Stein, que fizeram um bom uso do legado da série de filmes. Em Laços de Sangue, além do notável trabalho em cima de Bludworth, roteiro e direção também trabalham sua protagonista Stefani com responsabilidade. Interpretada pela visivelmente esforçada e imersa no projeto Kaytlin Santa Juana, a personagem divide as visões com sua avó Iris – interpretada na juventude por Brec Bassinger e por Gabrielle Rose na fase idosa – e precisa arranjar um jeito de fazer com que sua família escape dos planos da morte, que está atrás de cada descendente dos sobreviventes do acidente previsto pela matriarca, na década de 1960.

Premonição 6: Laços de Sangue pode não contar com as mortes sequenciais mais perduráveis no histórico da série, tirando a impressionante cena da máquina de ressonância magnética já revelada pela produção do filme, mas dispõe do evento catastrófico, que antecede toda a história do filme, visceral e de uma divertida criatividade em todos os seus detalhes. A sequência da premonição de Iris (Brec Bassinger), ocorrida nos anos 1960, do acidente em um restaurante localizado no topo de um arranha-céu recém inaugurado, desperta novos medos no público, ainda mais quando nos damos conta do exímio trabalho visual da cena, que conta com uma utilização responsável de efeitos computadorizados, além de um trabalho de edição que preserva os detalhismos do momento e planos longos. Não é exagero afirmar a riqueza de detalhes técnicos e narrativos da sequência de abertura do novo filme da franquia Premonição, assemelhando-se, no olhar fílmico que repassa a reprodução realista de um acidente de grandes proporções, a clássica cena do engavetamento de Premonição 2 (que, inclusive, é bastante referenciado neste novo capítulo).
O fato de o filme ter seu fator surpresa previamente revelado nos materiais promocionais está longe de tornar Premonição 6: Laços de Sangue previsível. Há, de fato, um conhecimento sobre uma das primeiras mortes em sequência do filme, por conta dos trailers, mas isso não tira a tensão da cena. A ideia de ter a morte perseguindo uma família e conectar essa história com o legado da franquia geram resultados que surpreendem pela criatividade e pelo evidente entusiasmo da produção com a narrativa que tem em mãos. Claro que existem soluções e escapatória facilmente compradas pelo público, que não chegam a ser mirabolantes, mas simpáticas e, dessa forma, aceitáveis. Assinada pela dupla Zach Lipovisky e Adam B. Stein (Aberrações), Premonição 6 dispõe de uma direção confortável, que conhece e respeita o material de grande responsabilidade que se tem em mãos. Existe aqui uma condução certa do que deve ser feito, sem intenções de aperfeiçoar ou arriscar caminhar para um lado mais além do padrão da franquia, o que não deve ser classificado como falta de coragem por parte dos diretores. No entanto, uma autenticidade na direção, a nível do roteiro que ousa sem esquecer seus conceitos, caberia neste novo filme, até para gerar sequências de mortes mais memoráveis. A tensão proveniente dos momentos funciona, tal como os mecanismos que geram ações e reações mórbidas, mas as duas primeiras e as últimas cenas de morte dos personagens parecem carecer de uma identidade própria no seu desfecho, mesmo se desenvolvendo de maneira convincente. Por outro lado, essa timidez por parte da direção em arriscar pode ter evitado excessos às cegas, tal como aconteceu no esquecível Premonição 4 (2009), e evitado um longa repleto de mortes vazias que somente apelam pelo visual, mas nada despertam no público, tal como o medo de beber de um copo com um caco de vidro se camuflando entre pedaços de gelo.

Diferente do seu antecessor, o bem bolado Premonição 5 que adota um tom mais voltado para o suspense dramático tanto na sua estética quanto na narrativa, Laços de Sangue equilibra a seriedade da situação com um toque de humor ácido. Quando se dá conta das possibilidades absurdas da morte e sua imprevisibilidade a hora do “ataque”, o filme não hesita em apelar para um absurdismo que fez com que Premonição 2 (2003) e Premonição 3 (2006) fossem tão apreciados pelo público. Muito do sucesso também se dá pelo elenco, que acolhe as ideias do filme e mergulha de cabeça na sua narrativa. Richard Harmon, intérprete do primo Erik, é um bom exemplo de dar vida a um personagem que ficará marcado na série de filmes.
Premonição 6: Laços de Sangue serve tanto como um retorno satisfatório de uma franquia que tanto divertiu o público com sadismo e humor ácido ao longo de 25 anos, assim como também um desfecho dessa, já que sua história bem amarrada dispõe de um começo, meio e fim que fazem sentido à tudo que a série construiu ao longo dos anos. Claro que haverá a possibilidade de mais filmes saírem do papel, principalmente devido ao provável sucesso dessa 6ª parte, podendo surgir sequências genéricas ou surpreendentes como Laços de Sangue. Então, seria mais prudente deixar a franquia finalmente descansar em paz ou enfrentar o seu destino, mais uma vez?
Nota: ⭐⭐⭐⭐
Por: Lucas Rigaud
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